Vergílio Ferreira
Este escritor, não tendo nascido em Sintra, a ela pertenceu e pertencerá para sempre. Sabes porquê? Porque esta vila e terras como as Azenhas do Mar serviram de inspiração a textos que escreveu. E estes textos passaram também a fazer parte do património sintrense!
Outras informações importantes:

Sabias que...

... Vergílio Ferreira escreveu um texto para a candidatura de Sintra a Património Mundial?

Sintra é hoje considerado Património Mundial (podes consultar a ficha na Sintraclopédia). Quem distingue as terras, os monumentos e o património cultural como património mundial é uma organização mundial chamada UNESCO. Mas para isso, é preciso existir uma proposta, uma candidatura. E Sintra assim fez nos anos 90 do século passado. E o escritor, morador em Fontanelas, fez um texto para juntar a essa candidatura chamado Louvar Amar!
Sabias que
"Sintra é o único lugar do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que de um eterno presente de verdura. E a memória do que foi mesmo em tragédia desvanece-se no ar ou reverdece numa hera de um muro antigo." - 'Louvar Amar', Vergílio Ferreira

O que nos quer transmitir o escritor com estas belíssimas palavras?
Que Sintra é um grande jardim que envolve também os monumentos, com o seu passado e as suas memórias, único lugar de Portugal que tão bem junta o património histórico e natural. E um jardim que é eterno e para usufruirmos diariamente.
VergÌlio Ferreira
Para os meus pais e professores
lerem comigo




Nasceu em Melo, distrito da Guarda, em 1916, e faleceu em Lisboa em 1996.

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Sobre Vergílio Ferreira podemos ler este excerto de Rosa Maria Goulart, no sítio na Web "Centro Virtual Camões":

Parte 1

Autor de uma obra multifacetada, repartida pelo romance, o conto, o ensaio e o diário,Vergílio Ferreira afirmou-se sobretudo como um dos grandes romancistas do séc. XX.

Parte 2

(...) o local de nascimento ficou largamente representado nos espaços literários dos seus romances, como representados ficaram outros que ele percorreu, nomeadamente as cidades de Coimbra e de Évora e o seminário do Fundão. Da aldeia, ficar-lhe-ia a imagem da montanha como local simultaneamente real e mítico, na reverberação da luz estival ou da neve do inverno; de Coimbra (em cuja Universidade estudou e que em 1993 lhe concederia o grau de Doutor Honoris Causa), gravar-se-lhe-ia na memória a Universidade no alto da colina, batida pelo sol, e metonimicamente cristalizada na guitarra dos fados e das baladas; de Évora, onde o autor foi professor lical durante catorze anos, captou Vergílio a luminosidade e a pureza dos seus espaços branços e a sua mítica ancestralidade. A contrastar com tudo isto, vem o seminário como espaço de clausura, de restrição das liberdades individuais, de terror e de princípios morais opressores. (...)

Citamos também o texto publicado na agenda cultural da Câmara Municipal de Sintra, "As cidades e a Serra", Maio de 2003:

Parte 1

Há-de o leitor interrogar-se sobre a constante e avultada atenção que os escritores dedicaram a este Monte da Lua através dos séculos. Continua a serra soberana, por cima de qualquer governo ou desgoverno dos homens, a captar cronistas e poetas para que se rendam e cantem as suas maravilhas.

Parte 2

Outros há que não lhes chega escreverem sobre ela, preferem habitá-la.
É o caso de Vergílio Ferreira, um dos maiores romancistas do nosso tempo, que possuía casa em Fontanelas e onde mantinha com a terra e o povo daquela aldeia uma ligação íntima, cúmplice porque natural, filosófica e criadora porque falamos de um grande pensador. Assim, é com naturalidade que o concelho surge com frequência na obra de Vergílio Ferreira.
Na vasta produção ficcionada do escritor, um romance se destaca em relação a Sintra: "Até ao Fim", onde o autor coloca as duas personagens centrais, Cláudio e Miguel, respectivamente pai e filho, numa capela à beira-mar no litoral sintrense. É através de uma introspecção retrospectiva, plena de humanismo que o pai nos vai revelando o seu passado, em diálogo etéreo com o filho morto deitado numa urna: "Estou parado à porta da capela, há um terreno à frente e depois a queda a pique para as águas. Passei a noite sozinho, fui homem. Quero dizer fui perfeito. Não é que eu tivesse muito a conversar com o meu filho, que dorme ali no caixão. mas o que houvesse a dizer era só entre os dois".

Parte 3

No desenrolar do romance vão passando várias personagens, todas elas carregando uma forte componente humana e, por vezes, lírica, incluindo o próprio Vergílio Ferreira. Depois, a cada passo, vêm os quadros da região: "Logo que amanheça. Logo que se cumpra o ritual da morte. Tomarei banho, lustral e novo. Ou no terraço da moradia das Azenhas, olhar o sol, respirar fundo o aroma do sem fim." Ou então, estendendo o olhar pelo recortado da costa: " para norte, vejo núcleos de luzes à beira-mar. Magoito, talvez, mais longe luzes indecisas, Ericeira? aguentam a vigília da noite que finda." mas, de quando em quando, vem a presença augusta da serra, ao longe, cheia de formas e nevoeiros: "Para nascente, parece-me, uma ilusão insinuada difusa. na linha da serra, linear o perfil do palácio, um galo cantou no impossível."

 

 
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